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Descubra o que todo mundo deveria saber sobre o mundo corporativo em um só lugar

  • Foto do escritor: Leticia Carmo Lopes
    Leticia Carmo Lopes
  • 21 de dez. de 2024
  • 7 min de leitura

Atualizado: 21 de dez. de 2024

Se há uma série que desafia as convenções narrativas e filosóficas, essa é Ruptura (Apple TV). Com sua premissa ousada e fotografia que transforma o monótono em interessante, a trama nos leva para o coração de Lumon Industries, uma corporação onde separam (literalmente) a vida pessoal da profissional.

 mundo corporativo
Ai que festa do mundo corporativo!

Talvez, você já tenha ouvido a frase:

"Você precisa deixar os seus problemas em casa e não trazê-los para o seu trabalho.”

Seguindo esse conselho ou não... a série nos convida a refletir sobre aspectos mais profundos de nossa psique, evocando até conceitos freudianos que nos levam a enxergar cada personagem como uma metáfora dos tempos atuais.


Aceita que dói menos: nossas emoções internas e externas sempre estão em conflito


Freud nos apresenta o id como o reservatório de nossos impulsos mais primitivos, enquanto o ego atua como o mediador entre esses impulsos e a realidade a nossa volta.


Em Ruptura, essa divisão ganha forma literal.


Os funcionários da empresa Lumon se submetem a um procedimento que separa suas memórias relacionadas ao trabalho das memórias pessoais, criando duas identidades distintas.

"Eu não poderei acessar minhas memórias pessoais enquanto estiver no andar da Lumon. Nem reterei as memórias do trabalho quando retornar pra casa no final do dia. Estou ciente de que essa alteração é abrangente e irreversível. Eu faço essa declaração livremente."

Os "internos", desprovidos de memórias de suas vidas externas, são uma manifestação do id: seres que existem num estado puro, imersos em uma rotina onde sempre acordam no trabalho, como um looping infinito da danação eterna digna da Divina Comédia.

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Eles vivem para o presente imediato, para as tarefas que lhes são dadas, sem o peso de uma narrativa pessoal para guiar suas escolhas.


Olha a cena de como uma das internas, Helly R., acorda na empresa sem saber quem é.


O processo de integração é feito por Mark S., o novo líder do departamento (e os sobrenomes são assim mesmo, feito por apenas uma inicial... Kafka fez muito isso. O que pra mim faz parte do processo de desumanização das pessoas):



Por outro lado, os "externos" carregam as narrativas, as responsabilidades e as expectativas que definem suas identidades.


Ao mesmo tempo, também personificam as limitações impostas pelo mundo consciente: a necessidade de se ajustar, cumprir papéis sociais e balancear o desejo pelo prazer com as exigências da realidade.


Vejam o externo de Helly exigindo que ela pare de reclamar porque não é uma pessoa real.

"Eu sou uma pessoa, e você, não. Eu tomo as decisões, e você, não."


Ela é... digamos, bem dura com o seu interno.


A tensão entre esses dois estados é palpável ao longo da série. A rebeldia dos internos — suas tentativas de transcender o confinamento de Lumon — é uma expressão da energia bruta do id buscando se libertar.


Enquanto isso, os externos lutam para manter o controle, muitas vezes alheios às batalhas travadas por suas contrapartes internas.


Ben Stiller, criador e diretor da série, compartilha de onde veio a sua inspiração:

"Eu fiquei fascinado pelo conceito de você se tornar um 'chip' dentro da sua cabeça, esquecendo quem você é ao entrar no trabalho, e, ao sair, não lembrar o que aconteceu lá dentro. Isso não parece tão distante de se tornar realidade..."

Assista abaixo a entrevista completa onde ele fala mais sobre como ele dirigiu a série e o que a experiência lhe ensinou sobre prioridades e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal:



O que significa realmente "ir trabalhar" e qual é o verdadeiro papel do job em nossas vidas?


A Lumon é como uma metáfora poderosa da desumanização que muitas pessoas enfrentam no ambiente corporativo.

É como se fossem reduzidas ao que produzem, e não reconhecidas pelo que são.

Não é raro sentir que o trabalho os consome a ponto de apagar certas individualidades, como se nos tornássemos uma peça dentro de um grande sistema.


Foi pensando nisso que me lembrei do conceito de neurociência afetiva, criado por Mark Solms, neuropsicólogo e psicanalista


Ele diz algo que faz muito sentido: no sistema capitalista de hoje, é menos provável que exista um vínculo de amor e cuidado.


O significa que, se você falhar, talvez, não será acolhido.


E há uma grande chance de ser punido de alguma forma por isso.


Mas lembrando que isso não é uma regra… existem as exceções.


É preciso separar o joio do trigo e reconhecer que os vínculos verdadeiros acontecem com mais frequência além do mundo corporativo


No vínculo real, existe espaço para ser acolhido, mesmo quando estamos em dificuldade.


E, particularmente, embora eu tenha feito amizades incríveis no corporativo – que valorizo muito, por sinal –, sei que elas são raras em um ambiente onde a competitividade e a necessidade de "ser o melhor" acabam prevalecendo.


  • Para aprender mais sobre este conceito, assista o vídeo abaixo:



Tudo isso me faz refletir: até que ponto estamos deixando o trabalho moldar quem somos?

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Será que não está na hora de resgatar a nossa humanidade e priorizar conexões que realmente importam, em vez de nos definir por um sistema que muitas vezes nos reduzem a números e resultados?


Quando te perguntam: "Quem é você?" qual é a primeira palavra que vem à sua cabeça?


Sua profissão?


ERRADO. Você não é o seu trabalho.


A rotina pode se transformar em tinta preta — como aquela observada por Irving em Mark — que, gota a gota, forma algo maior, mas cujo significado permanece obscuro.


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Irving vê uma tinta preta no olho de Mark

Esse elemento visual simboliza tanto a complexidade quanto o mistério do trabalho: é importante, mas não deveria nos consumir.


Ben Stiller descreve como as gravações da série trouxeram reflexões semelhantes:

"Enquanto produzíamos o programa, a tensão e o estresse eram perceptíveis dentro da equipe de elenco. Estávamos enfrentando um cronograma intenso, com cerca de 140 dias de filmagem... Isso nos fazia refletir: 'Por que estamos fazendo isso? Por que trabalhamos tanto? Por que as regras e estruturas foram definidas dessa forma?'

Porém, é crucial evitar extremos na análise dessa dinâmica


Não se trata de demonizar o trabalho ou o mundo corporativo, mas de reconhecer que o sistema é composto por pessoas — e que a transformação começa a partir delas.


Ao expandirmos nossa consciência e refinarmos nossa relação com o trabalho, podemos encontrar um equilíbrio entre vida pessoal e profissional, onde o trabalho seja apenas isso:


Apenas trabalho, e não uma definição de quem somos.

Como expandir a consciência?


Rodrigo Duprat, em Os Sete Níveis da Consciência, nos lembra que a expansão da percepção ocorre em estágios.

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  • Muladhara/Sobrevivência: Ambos tratam de segurança e interdependência para satisfazer necessidades básicas.

  • Swadhisthana/Relacionamento: Explorando conexões humanas, emoções e equilíbrio entre prazer e vínculo.

  • Manipura/Autoestima: Poder pessoal e afirmação através de conquistas e reconhecimento.

  • Anahata/Transformação: Crescimento pessoal, compaixão e unificação de corpo e espírito.

  • Vishuddha/Coesão Interna: Alinhamento com valores e expressão autêntica.

  • Ajna/Fazer a Diferença: Intuição e visão para agir de forma transformadora no mundo.

  • Sahasrara/Serviço ao Todo: Conexão espiritual e propósito maior como forma de transcender o ego.


Cada nível ativado nos permite refinar nossa visão de mundo, abandonando julgamentos rígidos e adotando uma postura mais equilibrada.


Quando aplicamos esse conceito ao contexto corporativo, entendemos que transformar um ambiente de trabalho vai além de criticar estruturas; é uma questão de elevar a consciência coletiva


Os internos de Ruptura representam um estágio de consciência reduzido, onde falta contexto e perspectiva.


Já os externos, embora conscientes, estão muitas vezes presos à ilusão de controle e às exigências sociais.


Expandir a consciência significa integrar essas duas dimensões: reconhecer os impulsos primários que nos movem (id), enquanto equilibramos nossas escolhas com propósito e conexão (ego).


Quando alcançamos níveis mais elevados de consciência, entendemos que o trabalho não precisa ser um campo de batalha entre ego e id, mas sim uma plataforma para expressão e colaboração.

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Um dos ensinamentos mais profundos de Ruptura é que "trabalho é apenas trabalho"


Essa afirmação, longe de ser um convite à apatia, é uma chamada à liberdade.


Ela nos lembra que não somos definidos pelo que fazemos, mas por quem somos.


Encontrar equilíbrio entre trabalho e vida é uma questão de olhar além das tarefas diárias e perguntar: como posso usar meu tempo e energia para construir algo que reflita minha individualidade e meu propósito?

Na abertura da série, a tinta preta que se funde em algo maior é também um lembrete de que cada um de nós é uma peça no quebra-cabeça maior da sociedade.



Mas para que esse todo tenha significado, precisamos atuar como generais conscientes, e não como soldados cegos que seguem ordens sem saber o propósito maior.


Um exemplo, foi em 1939: Um projeto começou a ganhar forma, com a promessa de mudar o mundo para sempre... mas o que aconteceu vai te surpreender


Sob a liderança do general Leslie Groves, foram mobilizados mais de 13 mil trabalhadores e investidos 2 bilhões de dólares – um montante que, atualizado, ultrapassaria os 30 bilhões.


No auge, o projeto contava com mais de 130 mil pessoas trabalhando em tempo integral.


Contudo, a maioria delas sequer compreendia a verdadeira natureza do que estavam construindo.


Mal poderiam imaginar que aquele esforço conjunto resultaria em mais de 100 mil mortes nas primeiras 24 horas de seu impacto e mais de 100 mil nos dias subsequentes.


Eles eram peças fundamentais no processo de enriquecimento de urânio e na montagem de um dos artefatos mais devastadores da história: a bomba atômica, que marcaria para sempre Hiroshima e Nagasaki.

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Quando assumimos uma posição de protagonistas, transformamos não apenas nossos ambientes de trabalho, mas também a sociedade como um todo


Ruptura é muito mais do que uma sátira ao mundo corporativo; é uma exploração sobre quem somos, como nos definimos e como podemos integrar os diversos aspectos de nossa existência.


Ao assistirmos à luta entre id e ego que permeia a série, somos desafiados a olhar para nós mesmos e para o papel do trabalho em nossas vidas.


Em um mundo onde a produtividade é frequentemente confundida com valor pessoal, a verdadeira revolução começa quando escolhemos nos enxergar como inteiros, além de nossos cargos e títulos.


Expanda sua consciência com o passar dos anos e descubra a liberdade de ser muito mais do que o que você faz.







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